Como muitas crianças, não tive uma figura paterna presente durante a infância. Nasci no Brasil e aos cinco anos fui morar na Espanha com a minha mãe e a minha avó. Cresci entre estes dois países, sem me importar muito com a falta de um pai.
Foram anos indo e vindo. Entre eles, alguns encontros esporádicos com o meu pai. Um almoço protocolar de vez em quando ou raramente alguma noite mal dormida na casa dele. Minhas lembranças, com ele, são poucas.
Em 2020 retornei ao meu lugar de origem. Surpreendentemente fui morar com ele, já que ele tinha uma casinha vazia ao lado da sua, na chácara aonde passou grande parte da sua vida. Suponho que deve ter sido porque sempre sonhei em morar no mato.
Mal sabíamos nós que seriam os primeiros mas também os últimos meses convivendo juntos. No seu leito de morte um pedido de desculpas e um perdão ao mesmo tempo.
Honro e agradeço. O fim é um início.
Lou Bueno, Curitiba, Brasil, 2022​​​​​​​
Após a sua partida, a morte começa a aparecer diante dos meus olhos diariamente. 
Ou talvez seja eu quem comece a observá-la por todos os lados. 
Flashes passam na minha mente como momentos a serem relembrados, mas escassas são as lembranças. 
Nada é muito nítido. Deve ser porque a sua presença tampouco foi.

Dos poucos momentos que recordo, a maioria são nesse lugar que hoje considero casa.​​​​​​​
Busco nos arquivos, meus e dele, imagens que temos em comun. São poucas.
Procuro entender o passado para compreender o presente.
Tudo o que sou faz parte do que um dia foi.

Através dos arquivos, fotografias analógicas antigas e algumas recentes - feitas pela minha mãe 
com o celular - ressignifico as memórias dessa figura que sempre foi ausente.
Viajo no tempo. As lembranças tomam um novo sentido.
Agora, com a ausência física, se faz mais presente que nunca.
Estar aqui, sem ele, me faz questionar como é que podemos ser tão parecidos se sequer  convivemos.
A terra, o gosto pela natureza e pelo rústico nos conecta.
Sinto a sua energia em todos os cantos. 
Uma parte dele está em cada objeto.

Olho para atrás e observo a passagem do tempo.
Tudo o que um dia foi, hoje se mistura com a terra.

Vejo o meu filho brincar no quintal. 
Nesse lugar que nunca me senti parte.
Agora, pertencemos.

A vida e as suas voltas! Hoje aqui é o meu lar.
O que é ausência, senão uma marca no tempo de algo que já foi?
Talvez a fotografia para mim seja uma fuga. Um jeito de encarar o luto.
Ou talvez, este projeto, seja uma maneira de fazer as pazes com o passado.

O início é o final. 
O final é o início.

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